Síntese: criação e evolução

TZ: Editado e extraído de textos de Huberto Rohden, Santo Agostinho e Einstein

Santo Agostinho viveu nos séculos IV e V da nossa cronologia.

Foi o maior filósofo neoplatônico do seu tempo e um dos maiores pensadores filosófico-teológicos do cristianismo desses 20 séculos.

No livro AGOSTINHO de Huberto Rohden descreve a vida dramática desse genial africano que analisou algumas das suas 103 obras, que, felizmente, chegaram até aos nossos dias.

Todas as obras de Agostinho foram escritas num maravilhoso latim de sabor clássico.

No livro De Genesi ad Litteram discorre o grande pensador sobre o problema da criação e da evolução do mundo e do homem.

Enfrenta a aparente contradição de dois textos: o do Gênesis, onde Moisés fala da criação do mundo em 6 dias, e do livro Eclesiastes, onde Rei Salomão afirma que “o Eterno criou tudo duma só vez.”

Agostinho discorre com genial agudeza sobre esses textos, fazendo ver que não há contradição, porque Deus criou simultaneamente todo o mundo em estado potencial, mas, através dos períodos cósmicos, esse mundo potencial se desenvolveu sucessivamente rumo ao estado atual.

E o filósofo joga com o paralelismo da semente e da planta, mostrando que a planta está contida causaliter et potentialiter na semente; que a semente é a própria planta em estado potencial, assim como a planta é a semente em estado atual.

Quem lê estas palavras têm a impressão de estar assistindo a conferência de fisica quântica ou registros de Heráclito, ou de estar lendo um tratado de matemática de Einstein.

Depois disto, passa o grande pensador à criação e evolução do homem, afirmando que também o homem foi criado pelo Eterno nesse único ato criador; o homem estava contido potencialmente na onipotência criadora desse ato divino, não no estado atual de hoje, mas assim como o cosmos estava no caos e como a planta está na semente.

Ora, conclui o filósofo, tanto o estado potencial como o atual é um estado real.

É deveras estranho que certos evolucionistas de nosso tempo não tenham atingido o vigor e a clareza da lógica desse genial africano do século V, afirmando que o homem de hoje é a transformação de um animal pré-histórico.

Agostinho percebeu nitidamente que ninguém se torna o que não é!

Que ninguém pode vir a ser explicitamente o que hoje não é implicitamente.

Agostinho estabelece uma perfeita síntese entre criação e evolução, e não vê nenhuma incompatibilidade entre esses dois conceitos.

Há quem diga “eu aceito a criação e rejeito a evolução”; ou vice-versa “eu aceito e evolução e rejeito a criação”.

Somente quem não sabe pensar logicamente descobre incompatibilidade entre criação e evolução, entre início e continuação.

Mas, vamos transcrever uma página textual, em vernáculo, da lavra do próprio Santo Agostinho:

“O Eterno criou tudo de uma vez (Ecl. 17,1). O Universo é comparável a uma grande árvore, cuja beleza jaz desdobrada aos nossos olhos, no tronco, nos ramos, nas folhas e nos frutos. Não foi num ápice que tal organismo nasceu. Bem lhe conhecemos a evolução: originou-se da raiz que o germe lançou terra a dentro, e desta origem desenvolveram todas as formas. De modo análogo, teremos de conceber o Universo: se está escrito que Deus criou tudo de uma vez, quer dizer que tudo quanto existe no Universo estava encerrado naquele único ato criador – não somente o céu com o sol, a lua e as estrelas, não somente a terra e os abismos da terra, mas tudo quanto se ocultava na força germinadora dos elementos, antes que, no decurso dos períodos cósmicos, se desenvolvesse, assim como está visível diante de nós nas obras que Deus crea até ao presente dia. Por conseguinte, a “obra dos seis dias” não significa uma sucessão cronológica, mas representa uma disposição lógica. Também o homem faz parte dessa criação em germe: Deus o criou, assim como criou a erva da terra antes que ele existisse. criou-os como varão e mulher e abençoou-os – criou-os segundo a força que a palavra de Deus, no único ato criador, depositou em germe no seio do mundo, força que, no decurso cronológico da evolução, leva tudo sucessivamente ao desdobramento, fazendo aparecer, a seu tempo, também Adão, “do elemento da terra”, e sua mulher “do lado do varão”. Porque, do mesmo modo que a Escritura faz surgir o homem “do elemento da terra”, faz originar-se também da terra os animais do campo. Se pois Deus formou da terra tanto o homem como o animal, que vantagem tem então o homem sobre o animal? O que o distingue é somente isto: que o homem foi criado segundo a imagem de Deus; isto é, o homem não segundo o corpo, mas apenas segundo a alma.”

Com estas palavras não nega Agostinho a alma espiritual do homem, que não veio do animal, mas do Eterno, embora os seus invólucros materiais tenham fluído através dos mesmos canais dos organismos vivos.

A Potência do Eterno é a fonte e causa única de todas as potencialidades temporárias.

Agostinho faz jus à matemática, na qual, segundo Einstein, “reside o princípio criador” – e faz jus também à ciência, que afirma o processo evolutivo do mundo e do homem.

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