Do Círculo à Elipse
Huberto Rohden
Que coisa estranha me aconteceu!
Girava minha vida numa órbita circular,
Descrevendo sua trajetória em torno dum único centro.
E esse centro era o mundo.
Mais tarde, expulsei desse centro o mundo
E o substituí por Deus.
Converti o meu velho materialismo num novo espiritualismo.
E, satisfeito comigo, comecei a girar em torno de Deus.
Do Deus do mundo – sem o mundo de Deus!
Detestava o mundo como coisa imunda.
Só mais tarde, muito mais tarde, descobri
Que no universo de Deus não há círculos – Que tudo é elipse, com dois centros.
Desde os pequeninos átomos até aos grandes astros,
Tudo se move em órbitas elípticas, Creando a estupenda harmonia do cosmos...
E eis que compreendi a mais estranha das coisas estranhas!
Compreendi que também eu era uma elipse bicêntrica, E não um círculo unicêntrico.
Descobri em mim um centro positivo
E um centro negativo
Como nos átomos, Como nos astros,
O centro positivo do Deus do mundo
E o centro negativo do mundo de Deus –
E os dois formam a graciosa elipse
Da harmonia cósmica do meu universo.
Descobri que o pólo negativo não é hostil ao positivo,
Mas que esses pólos são forças complementares,
Que se completam em maravilhosa consonância.
Em mim estão o Infinito e o finito,
O Espiritual e o material,
O Eterno e o temporário,
O Absoluto e o relativo,
O Universal e o individual,
Está o Todo Único que se revela em partes múltiplas,
O invisível Uno que se manifesta no verso dos visíveis.
E, cheio de pasmo e grata surpresa,
Contemplo o monótono círculo transformado em fascinante elipse.
E eis que das profundezas do microcosmo dos átomos
E das alturas do macrocosmo dos astros ecoam vozes!...
Vozes em grande silêncio...
Pus-me a escutar o silêncio dessas vozes...
Era o cântico dos elétrons e dos planetas
A girar em torno dos seus prótons e dos seus sóis...
Percebi que o coro dos átomos e dos astros
Eram hinos de fraternidade cósmica...
As elipses dos pequenos átomos e dos grandes astros
Saudavam a elipse da minha vida – irmã de duas vidas...
Solidário, entoei o hino do ritmo bipolar
Do Universo em festa...
Desde então, cantam o Deus do mundo
E o mundo de Deus
Na sinfonia cósmica da minha vida abundante.
Cooperam, em dinâmico equilíbrio,
O mundo do espírito e o mundo da matéria,
A Verdade do Além e a Beleza do Aquém,
O consórcio elíptico da Filosofia e da Poesia,
Que fizeram da minha vida uma harmonia cósmica... Aleluia!...
© tz notesRSS