Roma < > amoR - Cartas Provinciais de Pascal
"Minhas Cartas foram condenadas em Roma, mas o que nelas condenei está condenado no céu" - Pascal
Polêmicas satíricas que o grande gênio, Blaise Pascal, manteve contra a poderosa ordem religiosa dos jesuítas, e dos teólogos em geral, no século 17.
Pascal é universalmente considerado como um cristão genuíno e autêntico, um católico de pura catolicidade, como poucos.
E como se compreende que ele tenha combatido violentamente a poderosa ordem eclesiástica da Companhia de Jesus?
Como é que um católico autêntico - para não dizer, um santo —, soube apelar de Roma para o tribunal de Jesus?
Como se depreende de todo o livro das Cartas Provinciais, Pascal não confunde catolicismo com catolicidade, isto é, não identifica a teologia eclesiástica e clerical.
À primeira vista, a polêmica parece visar somente os jesuítas, quando na realidade gira em torno de toda a teologia eclesiástica, em que Pascal não vê a continuação da mensagem do Cristo.
E como ele tinha tido na noite de 23 de novembro de 1654 a sua misteriosa revelação da cristicidade genuína, Pascal defende o seu grande ideal crístocêntrico contra todas as deturpações e falsificações desse ideal pela teologia clerical.
Pascal, o exímio cientista e filósofo, viveu os melhores anos de sua vida na austeridade do mosteiro de Port-Royal, onde sua irmã Jacqueline era madre superiora, e juntamente com ela, não admitia qualquer amesquinhamento da mensagem do Cristo pelo laxismo moral da época.
Seguia a orientação supostamente ascética do bispo herege Jansênio (jansenismo), que queria uma pura catolicidade contra o catolicismo liberal que dominava a época.
Estranhamente, o livro das Cartas Provinciais foi condenado por Roma, mas a pessoa de seu autor nunca foi anatematizada, porque toda a França católica venerava Pascal como um santo, como ele era, de fato, embora não canonizado.
Basta dizer que ele deu a sua casa para hospital, num período em que os hospitais de França estavam repletos de doentes, e ele mesmo levava uma vida de monge, num mosteiro.
Pascal não se revoltou, propriamente, contra a Ordem dos Jesuítas, mas viu nos membros desta Ordem, a personificação da deturpação da pureza do Evangelho do Cristo, a quem ele dava obediência e lealdade incondicional.
Daí a veemência e a sátira da sua luta...
Este fenômeno não se limita à França e ao século 17, mas repete-se e continua desde o quarto século em que Constantino Magno contaminou com a política da Igreja Romana a pureza do Evangelho do Cristo... O Mestre disse a Pilatos que o reino dele não é “deste mundo”, mas é o “reino da verdade” — e todos os que são discípulos do Cristo não podem identificar a mensagem do Cristo com nenhuma espécie de doutrina teológica engendrada pelos homens; há uma diferença essencial entre o reino dos céus que não é deste mundo, embora esteja no mundo, e quaisquer outros reinos que se orientam por princípios humanos deste mundo, sobretudo pela política financeira de certa teologia.
De maneira que a polêmica de Pascal não é uma atitude anacrônica fora de época. Hoje, mais do que nunca, a mensagem do Cristo está ameaçada pela deturpação dos homens, na política, no cinema, na literatura, na arte, em toda a vida social da cristandade. Pode a maneira dessa deturpação ser mudada, mas a deturpação continua a ser a mesma e é cada vez mais perversa e sorrateira.
Hoje o Cristo é mais atraiçoado pelo beijo de Judas do que pela violência das palavras — “Aquele a quem eu beijar, esse é o tal, prendei-o!” Tornamos, pois, a reeditar este livro, na intenção de alertar contra o perigo perene de falsificações da mensagem do Cristo — seja por Judas.
Neste ocaso do século, em que vivemos, é de imperiosa necessidade distinguir o trigo do joio, por mais que eles se pareçam, externa-mente; a cinza de Babel da camuflagem se discrimina cada vez mais nitidamente.
Se for necessário apelar do intelecto para a razão, ou de Roma para Deus, façamo-lo com a coragem e honestidade de Pascal.
game theory and probability theory:
"Blaise Pascal (1623–1662) Blaise Pascal was a French philosopher, mathematician, scientist, inventor, and theologian. In mathematics, he was an early pioneer in the fields of game theory and probability theory. In philosophy he was an early pioneer in existentialism."
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