ENTRE DOIS MUNDOS

Huberto Rohden, huberto rohdenrohdende alma para alma
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Estendera o Eterno, de um a outro extremo, a sua potência creadora – desde os puros espíritos até à matéria bruta.

Desde a mais alta vida intelectual – até à mais profunda negação do intelecto.

Entretanto, não atingira ainda o Eterno o extremo limite de sua divina audácia...

Restava-lhe ainda o mais temerário e paradoxal de todos os atos – a união do espírito e da matéria.

Seria possível fundir em um único ser a luz dos puros espíritos – e a noite da matéria inerte?...

Reduzir a uma síntese essas duas antíteses?...

“E disse o Senhor: Façamos o homem – e fez Deus, da substância da terra, um corpo e inspirou-lhe na face o espírito vivente”...

E ergueu-se, no meio da natureza virgem, esse paradoxo ambulante, esse enigma anônimo, essa indefinível esfinge, semi-animal e semi-anjo – o homem...

Quando os espíritos celestes viram o homem, exultaram sobre a sua grandeza e choraram sobre a sua miséria...

Cristalizaram-se, na alma humana, essas centelhas de júbilo e essas lágrimas de dor – e formaram um mar imenso de doce amargura e inextinguível nostalgia...

Principiou, então, neste mundo visível, a luta entre a luz e as trevas – entre o bem e o mal...

A história da humanidade...

Têm os puros espíritos sua pátria – lá em cima...

Tem a matéria bruta sua sede – cá embaixo...

Mas onde está a pátria do espírito-matéria?...

Na terra? – protesta o espírito!

No céu? – protesta a matéria!

Entre o céu e a terra? – mas lá se erguem os braços duma cruz!

É por isto mesmo que o mais humano e mais divino dos homens expirou entre o céu e a terra – na sua pátria cruciforme...

“Não havia lugar para ele” – em outra parte...

E é por isto mesmo que os melhores dentre os homens são sempre crucificados...

Não os compreende a terra – nem os acolheu ainda o céu...

E assim, entre o céu e a terra, vive o homem esta vida dilacerada de angústias e paradoxos.

Sem pátria certa...

Em perene exílio...

Oscilando entre a matéria e o espírito...

Lutando...

Sofrendo...

Amando...

Até que a matéria volte à matéria...

E o espírito ao Espírito...

Sintetizando dois mundos...

Em Deus...

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